Por Fábio Romito

Imagine a seguinte situação: você vende seus produtos a lojistas e eles comercializam no varejo. Um cliente seu, costumeiro, liga para você e reporta o fato de que, do lote de calças de alfaiataria feminina que comprou de sua confecção no mês passado, das 200 peças na cor preta, 20 já foram devolvidas pelas clientes por rompimento da costura do gancho traseiro. Algumas clientes, inclusive, o ameaçaram de processo, alegando que estavam no trabalho quando isso ocorreu, o que gerou uma situação constrangedora para elas.

É muito provável que haja algo errado com esse lote. Você, como gestor da empresa, tem facilidade em identificar esse produto até a sua origem? Consegue identificar o fornecedor de tecido, de aviamentos, de mão de obra?

A palavra-chave nesse momento é rastreabilidade, ou seja, a capacidade de rastrear a origem dos produtos.

Ter sistemas de rastreabilidade pode trazer grandes vantagens para sua empresa na hora de identificar a origem de um problema como o relatado.

Empresas como grandes frigoríficos conseguem, a partir de uma peça de carne, retroceder até o nascimento do boi, passando pelo histórico da fazenda, vacinas, eventuais doenças, tudo sobre o animal e, ainda, sobre o processamento da carne até ela chegar à loja.

No caso relatado, o problema pode ter surgido em qualquer lugar, e cito algumas possíveis causas: linha podre ou com baixa resistência; máquina desregulada ou não apropriada; projeto errado, considerando um tipo de fechamento inadequado ao produto, entre muitos outros.

Existem diversas metodologias para tentar encontrar a causa do problema, mas um sistema de rastreabilidade pode ser extremamente eficiente nessas horas. Saber a origem dos materiais, como quando e por quem o produto foi cortado e costurado, é um dado que você poderá acessar com facilidade.

Não só para a resolução de problemas se aplicam os sistemas de rastreabilidade, eles podem ser aplicados internamente, em todo o processo produtivo. A tendência de consumo atual mostra que o comprador dos seus produtos deve começar a se preocupar com a origem dos materiais aplicados nos produtos que compra, preocupar-se em como esses produtos estão sendo fabricados e manuseados até chegar à loja, onde ele vai adquirir esse produto.

Em tempos de movimento ESG (quem quiser entender melhor escrevi um artigo sobre ESG na edição n.^o 122 da Costura Perfeita), muito se discute sobre a origem das matérias-primas e qual o impacto que elas podem causar no meio ambiente e na sociedade. Essa discussão tem tomado corpo na comunidade empresarial e na academia.

As empresas não conseguirão mais omitir dados de origem de materiais e de produção, os consumidores exigirão cada vez mais transparência sobre produtos. Portanto, as empresas precisarão poder afirmar com precisão o que acontece em sua cadeia produtiva.

A rastreabilidade da cadeia será de fundamental importância para o seu negócio, e a introdução de sistemas de rastreabilidade internos e externos só trará benefícios para a melhoria da qualidade de seus produtos, na gestão dos materiais, na gestão dos processos e, acima de tudo, na confiabilidade da empresa.

Fábio Romito é especialista na cadeia têxtil, formado em técnico têxtil, administrador de empresas e mestre em Engenharia de Produção; é também professor universitário e diretor da Romito Cursos e Treinamentos. / romitofabio@gmail.com

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