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LOGÍSTICA FLEXÍVEL

The LYCRA Company conseguiu driblar as principais dificuldades de embarques de fios e matérias-primas em escala global utilizando apenas duas ferramentas: a inteligência de seu time e estrutura próprios.

O planejamento logístico de uma empresa global, com plantas fabris em vários países e continentes já não é das tarefas mais fáceis em tempos de relativa calmaria, quanto mais numa pandemia.

A The LYCRA Company, que abastece as principais tecelagens em todo o mundo e se encaixa exatamente neste perfil, sabia dos impactos que poderia gerar em sua produção e na de seus clientes, e para que isso não acontecesse ou fosse minimizado, lançou mão de duas ferramentas importantes logo que a confirmação foi dada pela OMS e o lockdown imposto em diversos territórios: a inteligência de seu time e a robusta estrutura interna da própria companhia, flexibilizando a sua logística.

A solução para esse desafio foi desenhada pelo gerente de logística e comércio internacional da The LYCRA Company para a América Latina, André Lima, que atua aqui no Brasil, que em entrevista à Costura Perfeita, contou sobre como se deu esse processo, a fim de evitar o desabastecimento da indústria brasileira (e também internacional) por parte da empresa. Confira.

COMO TEM SIDO O ANO DE 2020 PARA A LYCRA NESSE PERÍODO DE PANDEMIA?

O ano começou bastante promissor – janeiro, fevereiro e março foram ótimos meses, as vendas estavam altas, achamos que seria um ano muito bom até o dia 15 de março, pois mesmo com a parada na China, aqui no Brasil o mercado estava indo bem.

A partir do dia 16 de março entramos em home office e passamos algumas semanas tentando entender o que fazer, pois estávamos muito preocupados com a saúde das pessoas, mais do que os negócios. Foram duas semanas assim. Na área de logística estávamos muito perdidos ainda sobre como iria funcionar.

O mercado caiu, os armadores começaram a tirar navios das rotas, porque as compras começaram a ficar menores, então, o mercado deu uma parada. Para se ter ideia, entre recebimentos e saídas de caminhões em nossa planta aqui no Brasil, eram 2 por hora, cerca de 40 caminhões por dia, e teve dias que saíam apenas cinco por dia e ficávamos contentes, pois chegou a cair para dois.

Achávamos que ficaria nesse ritmo e, entre agosto e setembro, vimos uma recuperação. Em outubro houve um forecast muito alto e começamos a sentir o problema oposto, pois havia demanda para atender, mas não tínhamos como trazer os produtos. Começou a faltar espaço em navios e até em fretes aéreos.

Aí começamos a usar o que temos de melhor: a estrutura de empresa grande presente em vários continentes. Temos fábricas na China, na Europa, EUA, México e Brasil. Como estávamos com dificuldades para movimentar as rotas normais que fazíamos, começamos a fazer trocas de matérias-primas entre as fábricas: se eu não consigo trazer da Ásia porque não tem espaço, eu consigo trazer dos EUA, porque a oferta de navios dos EUA para cá, apesar de estar mais baixa, é melhor do que da Ásia neste momento, pois, normalmente, os navios saem da Ásia, passam pela América do Norte e depois descem para a América do Sul. Mas quando chegam nos EUA, já descarregaram, então pode ser que tenha espaço para trazer pra cá. Então, começamos a fazer esse “xadrez” entre as plantas fabris de maneira que elas não ficassem desabastecidas, essa foi a grande jogada, aproveitar os recursos que se tem nos momentos de crise.

O interessante é você ter a possibilidade de utilizar os seus recursos quando se trabalha numa empresa global, com bases em países e continentes diferentes, e é incrível que olhamos isso muito raramente, pois quando estamos imersos no dia a dia, às vezes não percebemos algumas possibilidade. Mas é muito importante que, havendo essa estrutura, fazer uso dela, reduzindo custos e riscos na cadeia. É o planejamento estratégico e velocidade na resposta, que em logística é essencial.

COMO HÁ DOIS GRANDES FERIADOS NA CHINA (UM NO INÍCIO DE OUTUBRO E OUTRO EM JANEIRO), O FORECAST JÁ PREVÊ ESSE PERÍODO?

Já. Na verdade, esses grandes feriados na Ásia e alguns eventos que existem no Brasil já colocamos em nossos planejamentos. Todo ano, em abril, já sabemos que há paralização nos portos porque é o mês em que os fiscais da Receita Federal fazem as reivindicações salariais deles. Acompanhamos esses movimentos, sabemos que eles fecharam acordo para 2 anos, esse ano teve a pandemia, então sabemos que ano que vem pode haver alguma coisa. Dessa forma, antecipamos as importações e exportações para não ficar muito dependente nesse período.

COM A EXPERIÊNCIA QUE VOCÊS ESTÃO TENDO ESSE ANO, ENTRE A PARADA TOTAL E A ARRANCADA DA PRODUÇÃO, E AGORA UMA SEGUNDA ONDA DE COVID-19 DESPONTANDO NA EUROPA, VOCÊS ESTÃO PREPARADOS CASO HAJA UMA SEGUNDA ONDA AQUI NO BRASIL TAMBÉM?

Acho que agora ficará mais fácil, pois era uma logística que nós tínhamos, mas não utilizávamos, agora já sabemos como usar. Então, se vier essa segunda onda, já temos tudo organizado, não perderemos tempo com reuniões para saber onde está cada matéria-prima e fazer os trajetos.

VOCÊS USAM ALGUMA FERRAMENTA TECNOLÓGICA PARA AJUDAR NESSA LOGÍSTICA, DISTRIBUIÇÃO DE MATERIAIS E RASTREIO?

Usamos um sistema ERP que também engloba a parte de planejamento logístico. Usamos o SAP, um dos maiores do mercado, e plataformas amigáveis, como a BTNext (rastreio) que liga o SAP com os armadores, para vermos a programação dos navios, entre outras.

QUAL A IMPORTÂNCIA DESSE AJUSTE LOGÍSTICO QUE VOCÊS ESTÃO FAZENDO TANTO PARA A LYCRA QUANTO PARA O MERCADO TÊXTIL AQUI NO BRASIL?

Na verdade, quando se faz esse ajuste você não está salvando dinheiro, mas evitando custos maiores. Quando não há espaço numa determinada rota, a empresa acaba pagando um frete maior (premium) para abrir espaço e colocar a carga. Então, com essa jogada logística de trazer fios e/ou matérias-primas de outras plantas fabris, acabamos com esse custo adicional, o que impacta de forma positiva tanto para nós quanto aos clientes, que não terão esse acréscimo caso houvesse um custo muito grande para trazer esse material.

QUAL A ALTERAÇÃO DE TEMPO EM RELAÇÃO AO PRAZO NORMAL DE TRÁFEGO ANTES DA PANDEMIA E O ATUAL?

Durante a pandemia, foram tirados navios das rotas, então as partidas ficaram mais espaçadas e, por incrível que pareça, os armadores diminuem a velocidade dos navios, pois economiza combustível e se consegue um custo menor. Os prazos aumentaram, mas compensamos com a nossa mudança logística.

Agora está normalizando, mas não sentimos tanto porque há um trânsito normal da Ásia para cá por volta de 60 dias entre colocar o material no porto, carregar o navio, a partida e a chegada, e com esse arranjo que fizemos, compensamos esse tempo trazendo dos EUA ou do México, que têm um prazo menor (semanas), e começamos a equalizar esse tipo de atraso.

Imagem: Reprodução / LYCRA

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