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EDUCAÇÃO, INOVAÇÃO E INDÚSTRIA NA REDENÇÃO ECONÔMICA DO PAÍS: FUTURO NÃO SÓ A NÓS PERTENCE

Por Fernando Valente Pimentel*

Um desafio que já era urgente antes da Covid-19, quando vínhamos enfrentando sucessivas crises, torna-se mais decisivo e crucial para a capacidade de recuperação da economia brasileira e o desenvolvimento nacional: o fomento da indústria, o aumento de sua participação no PIB, que vem caindo paulatinamente nas últimas décadas, e ampliação de sua competitividade. Afinal, sem qualquer demérito para as demais atividades, todas muito relevantes e que interagem entre si e com a indústria, o setor é o que paga, em média, os melhores salários e tem capacidade de ampliar a presença de bens e produtos de alto valor agregado em nossa pauta de exportações.

O sucesso nessa meta implica, necessariamente, a concepção de uma política industrial já inserida na Manufatura Avançada, ou seja, que incorpore fortemente tecnologia de ponta, a digitalização de processos, cuja disseminação foi exacerbada pela pandemia, a inclusão de serviços aliada à produção fabril e crescente inovação. É óbvia a conclusão sobre o quanto é crucial a capacitação dos recursos humanos para atender a essa irreversível transformação do mundo.

Nesse aspecto, deparamo-nos com o gargalo da educação, uma das maiores dívidas históricas da República com a sociedade, considerando a precariedade do ensino público e, de certa forma, do privado, que se reflete em indicadores como a baixa produtividade de nossa economia e a má colocação de nossos estudantes nos principais rankings internacionais de proficiência nas disciplinas básicas. A pandemia agrava o problema, como evidencia pesquisa do Instituto Locomotiva: somente 21% dos alunos das classes C e D têm acesso a computadores para acompanhar as aulas remotas.

Relatório do Banco Mundial aponta que a renda per capita brasileira corresponde a 20% da norte-americana. Porém, seria superior a 50% se tivéssemos o mesmo grau de produtividade, cujo aumento depende do ensino, capacitação e investimento em bens de capital e tecnologia avançados. Eis, portanto, um compromisso sério do País com os atuais trabalhadores e os futuros ingressantes no mercado, hoje pressionado por mais de 13 milhões de desempregados, sem considerarmos nesses trágicos números os desalentados e os que perderam o entusiasmo de buscar uma profissão. O fortalecimento do talento humano é um dos fatores decisivos para conseguirmos acelerar a taxa anual de crescimento do nosso país para 4% e, assim, aumentarmos a renda per capita nacional dos atuais 10 mil para 20 mil dólares, nos próximos 20 anos.

É verdade que o Brasil tem ilhas de excelência e melhorou sua posição no ranking das nações inovadoras da Organização Mundial de Propriedade Intelectual. Estamos entre as 64 mais produtivas, todavia aquém do desejável, pois as concorrentes também avançaram. Para darmos um salto de competitividade, carecemos de boas políticas públicas. Também é necessária maior integração, já em curso, das instituições de pesquisa, universidades, empresas e organizações empresariais/laborais.

Esses avanços são cruciais para o sucesso de nossa inserção na Indústria 4.0, cujo significado foi enfatizado pela pandemia. Precisamos ter manufatura forte, inovadora, capaz de gerar empregos de qualidade em grande escala, que reduza a dependência tecnológica e no suprimento de bens estratégicos e atendendo aos preceitos de sustentabilidade social, ambiental e econômico.

Tais objetivos também são condicionados pelas soluções dos entraves à produção, a começar pela redução do “custo Brasil”, que soma R$ 1,5 trilhão a mais por ano quando comparado com a média dos países da OCDE. Para tal, serão decisivas a reforma administrativa e a reforma tributária, sendo esta iniciada pelo Congresso Nacional e agora contando com uma primeira proposta do Executivo Federal. Dentre outras medidas de simplificação e transparência dos impostos e redução dos ônus que eles representam para pessoas físicas e jurídicas, é preciso que não se taxem mais as exportações e os investimentos e que se reequilibre a carga de impostos entre os setores da economia, considerando ser a indústria o segmento que mais é taxado como proporção do seu PIB .

Cabe reafirmar, no entanto, a premência de viabilizarmos uma política de Estado que fomente o trinômio educação/inovação/indústria, que delimitará nossa capacidade de emergir da pandemia com oportunidade concreta de vislumbrar um futuro melhor e que, junto com as outras atividades econômicas, nos permitirá construir uma nação mais próspera e justa.

*Fernando Valente Pimentel é presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

Foto: Divulgação

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