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TÊXTEIS TÉCNICOS E FUNCIONAIS: UMA HISTÓRIA DE TRANSFORMAÇÕES E EVOLUÇÕES

Especialista técnico da DuPont conta como esses desenvolvimentos estão presentes no dia a dia dos trabalhadores de diversos segmentos e sua importância para garantir toda a segurança necessária

De EPIs a carros e construção civil, os têxteis técnicos e funcionais têm uma atuação tão diversa quanto necessária, especialmente quando se fala em proteção à integridade física de pessoas que trabalham em áreas que oferecem riscos, como a hospitalar, alimentícia, policial, elétrica, bombeiros, entre muitas outras.

Para quem olha de fora, é apenas um tecido. Mas para quem usa, é a garantia de proteção nas situações mais adversas, pois cada fio e trama foram pensados e testados cuidadosamente para tanto.

Quando se fala em EPIs e têxteis técnicos e/ou funcionais, de proteção, uma das líderes mundiais no assunto é a DuPont, empresa centenária que marcou esse setor com alguns lançamentos icônicos. Conversamos com Eduardo Moreira, especialista técnico da DuPont Nomex América Latina para falar de alguns deles. Confira a entrevista.

Há quanto tempo a DuPont vem desenvolvendo têxteis com acabamentos especiais e quais as tecnologias aplicadas?

Quando a gente fala da história da DuPont em relação aos têxteis, ela remonta ao início do século passado. A DuPont é uma empresa de quase 220 anos de idade, e no início do século 20, iniciou um grande desenvolvimento na área química. Olhando especialmente na área têxtil, há diversos materiais utilizados atualmente que foram desenvolvimento pela DuPont no passado.  

O primeiro deles, inclusive podemos falar que foi a primeira fibra feita pelo homem, o rayon, desenvolvido em 1924, uma grande evolução na indústria. Avançando mais alguns anos, a DuPont desenvolveu o náilon, em 1939, uma das revoluções da moda (como as meias femininas) e na produção de materiais técnicos (como paraquedas, que antes utilizavam seda e outros fios extremamente caros e menos resistentes).  

Mais para frente, com todo o aprendizado da poliamida náilon, a DuPont começou a desenvolver as aramidas, que são uma das fibras mais resistentes do ponto de vista tanto mecânico quanto térmico. Quando falamos em aramida, estamos falando de Nomex®️ (meta-aramida) e Kevlar®️ (para-aramida).  

O Kevlar®️, introduzido no mercado em 1965, é uma fibra cinco vezes mais resistente do que o aço.  É muito conhecido pelo público geral por estar presente em coletes balísticos, na blindagem de carros e na proteção de cortes na indústria.  

O Nomex®️, desenvolvido no início da década de 60, tem um enfoque mais relacionado à proteção térmica. É muito comum encontrá-lo em vestimentas de proteção ao fogo e arco elétrico, vestimentas de bombeiros e aplicações bastante interessantes não previstas inicialmente, como revestimento estrutural de aviões, ou dispositivos elétricos e transformadores que requeiram alta temperatura. Até mesmo as vestimentas que os astronautas utilizam no dia a dia, incluindo na Estação Espacial Internacional, têm Nomex®️, pois essas vestimentas precisam ser resistentes a chamas e duradouras.  

Já o Tyvek®️, criado na década de 60, foi também uma revolução na indústria têxtil ao proporcionar um novo conceito em vestimentas de proteção química e poeiras. Ele é, basicamente, uma membrana semipermeável (permeável à passagem do ar, mas não à passagem de líquidos) além de ser extremamente resistente. Isso traz bastante conforto e segurança na utilização contra muitos agentes. Hoje também é utilizado em algumas modelagens de moda, como em coleções de estilistas famosos que usam Tyvek®️ como vestimenta.  

A partir dos anos 2000 e 2010, existem outros desenvolvimentos que a DuPont tem trabalhado bastante, como tintas condutivas e seus processos de aplicação em tecidos – e aí estamos falando basicamente de vestimentas inteligentes, nas quais posso utilizar a tinta condutiva para fazer o aquecimento do corpo de uma jaqueta de inverno, onde posso ter um sistema de aquecimento ativo, ou posso interligar sensores em diversas parte do corpo. Como estamos falando em condutores em materiais maleáveis, é algo não tão simples de se fazer e por isso demandou bastante pesquisa. 

Voltando um pouco a Nomex®️ e Kevlar®️, na parte de proteção térmica temos desenvolvimentos recentes em tecnologias têxteis, nos quais, com a mesma gramatura de tecido, temos conseguido aumentar significativamente a proteção térmica (tanto fogo quanto arco elétrico) – duas, até três vezes mais. É uma tecnologia prestes a ser lançada no mercado brasileiro.  

Como era a demanda por esses artigos antes da pandemia e como está agora? Quais segmentos têm solicitado mais? E tem surgido demandas de novos mercados?

A pandemia acabou mudando a forma como enxergamos os EPIs do ponto de vista geral. Se olharmos especificamente para Tyvek®️, houve grande aumento de demanda porque já é m material pensado para esse tipo de proteção.   

Agora está começando uma demanda para novos produtos no segmento de multirriscos. Imagine o trabalhador que está em uma indústria de Óleo & Gás, em uma plataforma de petróleo, ou ainda o trabalhador que está no setor elétrico, e que têm que ficar próximo de outras pessoas. Além de estar protegido contra riscos primários de fogo e arco elétrico, esse trabalhador precisa também proteger as pessoas ao redor de riscos biológicos utilizando algum tipo de máscara. E as máscaras atuais são feitas de materiais que não são resistentes a chamas – vão derreter no rosto da pessoa ou continuar pegando fogo causando danos as vezes irreparáveis. 

Nesse sentido, a DuPont conseguiu desenvolver novas aplicações para Nomex®️ e Kevlar®️, que acabam mostrando bastante vantagem em relação a outros materiais no mercado, por exemplo, o algodão tratado, porque é possível pegar uma máscara de Nomex®️, que já oferece proteção de fogo e arco elétrico, e ao fim do dia fazer a lavagem com água sanitária sem que haja perda de proteção do material.    Essa demanda acabou de surgir e acaba passando para as próprias vestimentas, uma vez que as empresas estão preocupadas em sanitizá-las. Essa mudança, pensar mais no multirrisco, deverá permanecer no pós-pandemia.  

Acreditam que as confecções, por sua vez, estão prestando mais atenção e valorizando estes acabamentos? E que esta será uma demanda evolutiva, daqui pra frente? 

Em uma primeira era, pensava-se nos EPIs única e exclusivamente como proteção básica. Eram EPIs bastante ruins de se vestir, grossos, com tecnologias bastante arcaicas. Com o surgimento de fibras inerentes, houve uma evolução que já conseguiu reduzir bastante o peso e aumentar muito a qualidade da proteção desses materiais.  

Com isso, tem-se uma evolução de ganho não só na proteção, mas também no conforto, o que faz com que a assiduidade de utilização desse material seja também maior.   

A partir dos anos 2000, nota-se um pensamento muito mais na utilização para diferentes tipos de necessidade e a primeira forma com que você olha para isso é ter EPIs voltados ao público feminino e masculino, devido às diferenças no formato dos corpos, e que o caimento das peças deve ser pensado de forma diferente.  

Com a Covid-19, você traz à tona mais uma necessidade, a de proteção multirrisco e a necessidade de proteção comunitária de EPIs. A evolução hoje está muito mais em trazer materiais de alta qualidade ou fazer combinações desses materiais para atingir novas soluções contra riscos, com conforto mais extremo ou com aspectos positivos de utilização pelas pessoas.  

Por exemplo, na área de bombeiros, temos na vanguarda hoje materiais distintos, de formas têxteis distintas, para que cada um desses materiais, combinados de uma forma específica, tragam um tipo de proteção e durabilidade.   

Atualmente estudamos muito não só a combinação de diferentes tipos de materiais, mas também a forma de tecê-los, a mescla das fibras para obter o fio. Sempre com o objetivo de obter melhorias que, ao fim, concorrem para nosso objetivo principal: a segurança e a saúde do trabalhador. 

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