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SPFW N52: HIGHLIGHTS

Confira as marcas destacadas pela jornalista Henriete Mirrione

Foi emocionante de ver “ao vivo e em cores” a volta de forma híbrida (presencial + fashion films) nas passarelas da edição 52 da São Paulo Fashion Week, que aconteceu no prédio da Bienal do Ibirapuera, em São Paulo. O streetwear vibrante da Meninos Rei, dos irmãos Céu e Júnior Rochas. Com a coleção “Save o povo das Ruas”, os baianos integrantes do Projeto Sankofa injetaram energia e cor na passarela do SPFW por meio de uma roupa criada num patchwork de tecidos africanos e com casting que festeja a diversidade em estreia presencial emocionante! Já a Ateliê Mão de Mãe, de Vinicius Santana e Patrick Fortuna, marca também integrante do Projeto Sankofa, desfilou com o seu trabalho delicado de crochê manual inspirado no mar.

E o frescor e a beleza de João Pimenta com uma estética mais leve e comercial, sem abandonar suas sobreposições e características genderless. Mas não se engane, mais usável não quer dizer banal. Muito bacana de ver a combinação delicada do peso do moletom com a leveza do crepe de seda ou da lã com a renda em uma cartela de cores repleta de beges pontuados por preto, cinza e branco.

Já a estreia presencial de Weider Silveiro foi linda e nos convidou ao conforto. Inspirado no movimento grunge e trabalhando essencialmente com malhas – resultado da parceria com a Nanete Têxtil, os florais e os xadrezes femininos impressos nas roupas flertam com o street chique. E as peças lisas, conversam despojadamente com o romance contemporâneo! E que maravilha ver shapes diversos, inclusive com forte aposta nos midsizes!

E o que dizer de Walério Araujo, que em seu debute presencial na SPFW celebrou os 30 anos de negócios no melhor estilo da marca! E nessa festa não faltou o perfume da noite, a beleza das hostess, o brilho das drags, a luz da eterna Elke Maravilha…enfim, tudo muito Walério! Emocionante ver o designer reverenciar a cena clubber dos anos 1990 e início dos anos 2000, falando sobre a lendária coluna Noite Ilustrada, de Erika Palomino, na Folha de S.Paulo, que entre outros méritos, premiava os melhores da moda e da noite paulistana. Com roupas mais comerciais e pautadas no upcycling, vimos os tradicionais bordados de cristais e pérolas de Walério no jeanswear e em uma ofuscante alfaiataria desconstruída.

No quarto dia de desfiles, Fernanda Yamamoto levou o público do calendário para o Centro Cultural São Paulo. Muito além de simplesmente mostrar novas técnicas de seu belíssimo trabalho de plissados, dobraduras e origamis em tecidos leves e delicados, a designer mescla moda, arte, história, tradição, cultura e muito mais, em desfiles performances que também provavam reflexões. As peças da temporada – na verdade, todos quimonos -, foram desenvolvidas à partir de três itens antigos resgatados da comunidade Yuba, que quando retrabalhadas serviram como base para o desenvolvimento do restante da coleção, que também terão uma releitura mais comercial. Essas roupas, desfiladas por integrantes e descentes de imigrantes japoneses da comunidade autossuficiente, fundada em 1930, em Mirandópolis, interior de São Paulo, ficam expostas para o público, assim como outros itens dos Yuba, no Centro Cultural, até o dia 05 de dezembro.

Já a jovem marca Neriage, de Rafaela Canielli, apresentou uma das coleções mais bonitas e assertivas do SPFW. Peças com uma elegância discreta, em uma alfaiaria desconstruída, com muita sobreposições, formas alongadas, plissados femininos – eles aparecem dando movimento às saias e até em detalhes de mangas de casacos. E que sutilizações as texturas de franjas delicadas de seda, que correm a roupa com um peso suave, se contraponde outras mais fluidas, de estamparia em traços delgados. Na cartela de cores, pontos para a força do vermelho pontuado por off-white, cinza e amarelo.

O mestre da manufatura, Lino Villaventura, com seus vestidos sonhos, sempre em materiais nobres e combinações exuberantes de texturas e cores, e ainda com a presença da beleza das musas veteranas Marina Dias e Vivi Orth no catwalk.

A cabo-verdiana radicada no Rio de Janeiro, Angela Brito, abriu as apresentações do quarto dia de evento com uma coleção inspirada no próprio acervo e em questões familiares, tudo transpassado por estampas com fotografias que resgatam memórias afetivas. Bonitas as vestes em alfaiataria, trabalhos manuais e tecidos naturais que se misturam com acolhimento e afeto.

Ao refletir sobre um momento pós pandêmico, Luís Cláudio Silva, da Apartamento03, fala de cura e cria beleza para se comunicar usando o recurso do artesanal e da precisão de técnicas e mão firme para transmitir seus desejos. E, com isso, ele nos faz vibrar! Seu casting brilhou (literalmente, com a recordista de desfiles da temporada, a top Rita Carreira) e mostrou uma alfaiataria impecável, extremamente sofisticada e ao mesmo tempo totalmente despretenciosa. As roupas carregam folhagens e plantas (de cura) não apenas via styling, como também nos motivos impressos no tecido ou bordados sobre ele. E o que dizer das vestes e dos acessórios em fios e trama de palha, inclusive com aplicações de cristais? Outro ponto: muitas peças são muito sofisticadas quando surgem em combinações de preto e branco, mas é na explosão de cores que tudo fica ainda mais interessante. Que coleção arrebatadora! Bravo!

Já a alegria e o alto-astral de Isaac Silva, com todo o seu contagiante axé, fechou o dia. O jovem designer não poderia encerrar de melhor maneira as apresentações presenciais na capital paulista estando inserindo em um novo momento do Calendário, que tem a sua edição mais democrática e múltipla, com marcas contando com castings mais plurais e discursos diversos e pertinentes, com as racionalizadas do Projeto Sankofa e a própria marca de Silva. Desta vez, a coleção confortável do criador enaltece a Bahia e reafirma a parceria da marca com as Havaianas, que agora avança para além das flip flops, entrando com muita cor no segmento de beachwear. Um viva para as parcerias que fortalecem trabalhos que merecem ser evidenciados e fazem a roda girar!

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