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SANGUE AZUL NO CORAÇÃO DO BRASIL

Denim City SP integra conhecimentos, teoria e prática sobre o universo denim

Quando se chega ao número 604 da Rua Casemiro de Abreu, no Brás, em São Paulo, maior polo confeccionista do país, a sensação é de um oásis em meio ao turbilhão da cidade. É por os pés na calçada e a Denim City SP te atrai como um ímã e, uma vez lá dentro, é difícil querer sair.

Primeira filial no mundo fora de Amsterdã (Holanda), onde fica a sede da Denim City, a brasileira completou um ano no dia 26 de outubro de 2021, mostrando sua força e resiliência em um período totalmente atípico no mundo, o da pandemia. Em seus 5 mil m2, a ocupação é de 100% dos espaços, que vão de showrooms das principais fabricantes de denim, aviamentos e soluções para o jeans, passando por uma lavanderia industrial de ponta, área de palestras, cursos e workshops para pôr a mão na massa, com máquinas de costura, mesas de corte, entre outros detalhes, uma pequena loja com jeans conceituais e, é claro, opções gastronômicas (de restaurante, bar e café), porque ninguém é de ferro. A ideia é agregar e aconchegar.

Porém, mais do que isso, a DCSP é o lugar pensado para trazer diversas ferramentas que tornem o segmento de denim protagonista de novo no cenário nacional, e mais: ser um catalisador para o desenvolvimento de toda a cadeia, de ponta a ponta, para que se torne mais unida, produtiva, inteligente e sustentável.

Maria José Orione, diretora acadêmica da DCSP. / Foto: Silvia Boriello

“Relativizando para um ano desafiador como tivemos, acredito que tenhamos conseguido bastante, pois colocar dentro de uma mesma sala os maiores produtores de denim do país, o pessoal dos aviamentos, de lavanderia, todos conversando sobre o setor – como um dos patrocinadores brinca, “deixando o crachá na porta da sala” –, discutindo assuntos que não sejam confidenciais em âmbito coletivo, isso, para mim, que tenho 40 anos na área, é inédito, e considero uma primeira grande vitória”, analisa Maria José Orione, diretora acadêmica da DCSP.

Ela conta que, do plano original para agora, não houve grandes mudanças de rota na Denim City SP, que tem duas áreas distintas: a da holding, com os showrooms, e a acadêmica, sem fins lucrativos, voltada à parte educacional.

“Na parte da holding, cumprimos exatamente o planejado, estamos com 100% de ocupação em um ano tão desafiador. Já na parte acadêmica, ficou tudo mais lento do que prevíamos por causa da pandemia, com as restrições de encontros presenciais, mas tivemos êxito no on-line, nos cursos Do Algodão ao Denim e de Design, e, depois, quando foram permitidas as aulas presenciais, tivemos um sucesso muito grande com o curso A magia do denim, que é o de lavanderia, o qual já completamos 12 edições presenciais.”

PROJETO EDUCACIONAL

Com toda a inconstância que o período pandêmico trouxe, como o abre e fecha de estabelecimentos, restrição de circulação e de eventos presenciais, alguns projetos educacionais da DCSP ficaram para o futuro, como os de colaborações com universidades, que devem ser retomados ao passo que a vacinação se torne mais abrangente e questões sanitárias controladas.

“Acreditamos que podemos contribuir tanto na formação de estudantes quanto os profissionais que já atuam na área, pois a Denim Academy é muito complementar aos cursos de moda; enquanto aqueles focam mais na criatividade e na moda de forma geral, aqui temos o aprofundamento no denim, para quem quer se aprofundar nesse segmento”, destaca Maria José.

Além dos cursos on-line e, agora, os presenciais na Denim City, há ainda a possibilidade dos cursos in company, ministrados na própria empresa.

QUEBRA DE PARADIGMAS

Pensar – e principalmente unir – uma cadeia produtiva não é das tarefas mais fáceis, ainda mais quando parte dela começa a se pulverizar. Mas essa é a missão e o desafio da DCSP, que já começou com um dos elos mais fortes, o das tecelagens.

“Em relação às marcas de jeans, temos um longo trabalho a fazer, pois o número é infinitamente maior. Mas nosso foco é trabalhar a cadeia produtiva do denim como um todo, pois se o jogo não for “ganha-ganha”, é muito difícil haver uma sobrevivência sadia do setor. Então, nossas conversas têm sido sempre neste caminho, de como fortalecer o setor, e temos consciência de que precisamos ajudar muito a ponta, ou seja, as confecções, as private labels, as lavanderias, onde começa haver uma fragilização”, comenta Orione.

Ela cita o exemplo das lavanderias, nas quais foram iniciadas conversas para saber os pontos mais delicados, os desejos que as marcas têm e que eventualmente as lavanderias não conseguem atender por razões da própria cadeia. Maria José conta que serão abertas rodadas de conversas sobre essas entrevistas para, a partir daí, ver como os outros elos da cadeia do denim podem contribuir para essa melhoria.

“Recorrentemente, temos percebido que um dos principais problemas são os canais de comunicação obstruídos, e o papel da DCSP, como um elemento neutro, é colocar em pauta essas questões em um momento em que não se está discutindo problemas do dia a dia das empresas, como uma duplicata, uma ocorrência na linha de produção, por exemplo. Queremos ser um catalisador dessas conversas para trazer melhorias ao setor, com maior transparência de informações.”

No piso superior, showrooms das têxteis de denim e aviamentos.

SUSTENTABILIDADE NÃO É CUSTO, É INVESTIMENTO

Ter em todo o processo produtivo do denim a cultura da sustentabilidade – ambiental, social, econômica – é outro forte pilar da DCSP, tanto que conceitos sobre economia circular da Ellen MacArthur Foundation são trazidos à pauta nos cursos ofertados.

“As grandes empresas, por terem esse porte, sabem fazer as contas e têm auditorias, por isso são sustentáveis, mas esse aspecto acaba se perdendo no meio do caminho da cadeia do denim até chegar ao varejo. Queremos incutir a cultura de um processo produtivo sustentável de ponta a ponta, agregando todos os pontos do ESG. É muito melhor que a empresa tenha uma boa governança, remunere adequadamente seus funcionários, que possua um ambiente social saudável, um ambiente financeiro saudável e a relação com o meio ambiente saudável. Pensar a sustentabilidade como processo, e não em só um produto para fazer um green market. Nós, da DCSP, incentivamos as empresas a serem tão sustentáveis o quanto for possível, em pensar ‘o que posso fazer amanhã para ser mais sustentável do que hoje?’. São pequenos passos. Dessa forma, as empresas menores poderão enxergar que sustentabilidade não é custo, é investimento que traz retorno. As marcas ainda estão em um momento muito mais “precista” do que de consciência sobre a sustentabilidade, e acho que a causa disso é porque o consumidor final, em sua grande maioria, não está tão atento, e é ele quem puxa essa tendência. Por isso, precisamos falar também com esse consumidor de alguma forma mais efetiva, o que está em nossos planos, assim como o vinho falou, o café falou, o agronegócio falou. Achamos esse ponto importante, mas ainda é um projeto em desenvolvimento”, finaliza Orione.

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