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SAÍDA DA ARGENTINA DO MERCOSUL: PERDAS E NOVAS OPORTUNIDADES

Por Silvia Boriello

Olhar para a política interna: este foi o principal mote utilizado pela Argentina para anunciar, no dia 24 de abril, a decisão de deixar o bloco do Mercosul (veja a declaração oficial aqui).

Às voltas com suas dívidas internacionais e economia recessiva, ainda mais agravada com a pandemia da Covid-19, a Argentina era, até pouco tempo, uma das maiores aliadas comerciais do Brasil em vários setores, como o têxtil, por exemplo, que tinha o país como destino principal de suas exportações.

Em 2019, o Brasil exportou à Argentina, entre artigos têxteis e confeccionados (excluindo a pluma de algodão), pouco mais de US$ 204 milhões (FOB), enquanto ao Paraguai e Estados Unidos, que vieram logo na sequência, receberam US$ 100 milhões e US$ 84 milhões (FOB), respectivamente.

Mas o governo argentino optou por usar outras ferramentas na tentativa de recuperação do país, as quais não passam pelo Mercosul neste momento. Desta forma, excluindo os acordos bilaterais que já estavam encaminhados, como os com a União Europeia e EFTA (Associação Europeia de Livre Comércio), a Argentina não participará mais dos acordos que vêm sendo costurados com a Coreia do Sul, Japão e Canadá.

Isto significa, de um lado, a perda de um parceiro comercial importante ao Brasil, mas que estava com a relação travada por seus problemas econômicos; e de outro, oportunidades ao bloco do Mercosul para realizar novos acordos, sem a preocupação com o entrave argentino devido às suas dívidas com o FMI.

Fernando Pimentel, presidente da Abit / Divulgação
Fernando Pimentel, presidente da Abit / Divulgação

“A retirada da Argentina de futuras negociações internacionais no âmbito do bloco do Mercosul era, de certa maneira, esperada”, afirma Fernando Pimentel, presidente da Abit – Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção.

Segundo Pimentel, o país já vinha passando por dificuldades muito grandes e elas só foram se tornando mais agudas com este quadro da pandemia do coronavírus, e esta posição abre uma nova fase do Mercosul onde, ao menos temporariamente, Brasil, Paraguai e Uruguai definirão os rumos das próximas negociações.

“No entanto, nós da Abit, entendemos que não é hora de seguir com novas negociações e nem mesmo de prosseguir com aquelas que não foram concluídas ainda, porque o mundo vai ser diferente: o quão ainda não sabemos. O Brasil não pode – e não deveria – fazer avanços em acordos amplos, além dos que já foram concluídos, pois estará colocando em risco a existência de uma parcela substancial de sua indústria – a de transformação, principalmente -, e além do problema da pandemia da covid-19, podemos ter uma outra pandemia originária da invasão de produtos a preços vis, destruindo empregos, negócios e investimentos dentro do nosso país”, declara.

De acordo com o presidente da Abit, há um excesso de produção, os mercados mundiais estão travados, os países envolvidos estão semiparalisados e este excesso de produção procurará realocação em qualquer lugar do mundo a preços de liquidação.

“Portanto, o momento atual é de observar a cena internacional, que já ela pressupõe uma queda profunda do comércio ao longo desse ano, e analisar como o Brasil irá se reposicionar industrialmente nesta nova etapa que o planeta passará a viver em função daquilo que estamos vivenciando agora. Como instituição, não temos uma visão autárquica, mas entendemos que a hora agora é de parar e observar o que irá acontecer, o que não significa paralisar, mas sim entrar em sintonia com o que o mundo terá de desdobramento desta crise dramática que estamos vivendo.”

Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Abicalçados / Divulgação
Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Abicalçados / Divulgação

Na área calçadista, a Argentina, atrás dos EUA, foi o segundo maior destino das exportações no 1º trimestre deste ano, com 2,4 milhões de pares vendidos a uma soma de US$ 25,6 milhões, 19,1% a mais que o mesmo recorte de 2019.

Na opinião de Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Abicalçados – Associação Brasileira das Indústrias de Calçados, a partir do momento em que o governo argentino sinalizou que não interferirá nas negociações bilaterais dos países do bloco, arejam-se as relações com novos mercados.

“Acreditamos que, se por um lado a medida pode facilitar as negociações, no sentido de que dará liberdade para os demais países membros negociarem suas concessões e reduções tarifárias bilaterais, por outro, vai enfraquecer ainda mais o grau de integração do bloco econômico, o reduzindo cada vez mais a, simplesmente, uma zona de livre comércio”, ressalta Haroldo.

 

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