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O QUE O RESULTADO DAS ELEIÇÕES AMERICANAS TEM A VER COM O NOSSO SETOR TÊXTIL E DE CONFECÇÃO?

Desafios e oportunidades estão lançados, mas é preciso, antes, estar atento ao nosso mercado interno

Com a finalização oficial das eleições americanas em 14 de dezembro, todos os indicativos seguem para que Joe Biden vista o papel de presidente dos Estados Unidos. Sua equipe vai tomando forma e, apesar das diretas ao Brasil em relação a como vem tratando de assuntos relacionados ao meio ambiente e saúde pública, a relação bilateral entre esses dois países continuará de alguma forma. Como, ainda descobriremos.

Em conversa com o Arthur Martinho, vice-presidente internacional do IBREI (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Relações Empresariais Internacionais), ele contou à Costura Perfeita suas impressões frente a esse cenário, de que forma ele pode afetar o setor têxtil e confeccionista brasileiro e, mais importante, os desafios e oportunidades que se mostram a partir de então. Confira.

Com a experiência e observatório que vocês possuem no IBREI, como avaliam o resultado das eleições americanas para as relações bilaterais com o Brasil, de forma geral?

Arthur Martinho: Até então, Brasil e EUA vinham tendo uma boa relação comercial, a dúvida é se continuará com a presidência de Joe Biden, o que vale ressaltar é que a democracia americana é algo muito maior do que sua figura como presidente, sem contar sua equipe. Um ponto positivo para o Brasil é a indicação de Antony Blinken como Secretário de Estado, pois possui um perfil mais conciliador.

E no recorte para o setor têxtil e de confecção, vocês avaliam de forma positiva? Quais oportunidades e riscos para o nosso mercado?

Arthur Martinho: Não podemos esquecer que o setor têxtil, bem como todos os outros, tem sim o seu grau de dependência com as grandes potências, seja China, Europa, o que for. Essas eleições nos indicam a necessidade de irmos em busca de outros países além desse eixo hegemônico, de mercados que foram interessantes no passado. Mas será que continuam? Sair da zona de conforto é necessário, e independente dessas circunstâncias políticas, a visão do empresário brasileiro do setor têxtil, que anda sofrendo – e muito – com a falta de matéria-prima, precisa mudar.

Será que essa nossa dependência gerada por algumas grandes potências, não somente EUA, mas China, principalmente, estão destruindo nosso setor? Como podemos sair dessa zona de conforto? Acho que esse é o momento de abrir a cabeça e explorar novas oportunidades, para que possamos arriscar mais, não de uma maneira inconsequente, mas com consciência, isso é o mais importante.

Os EUA em si, não parará de comprar ou produzir, pois esse é o ideal americano; acima da política, há um plano norte-americano, que está acima de direita, esquerda, republicanos, democratas ou quem quer que seja, e esse plano vai continuar girando a economia, principalmente em setores como o têxtil.

Mas o que coloco como oportunidade aos empresários brasileiros do setor têxtil e de confecção é abrir um pouco a visão, olhar para as regiões próximas, olhar para a América Latina. Esse é o momento de o empresário olhar para cá, entender o funcionamento, pois, infelizmente, não conhecemos o continente onde nós estamos tentando prosperar. Nós não conhecemos a América (Latina), e é aí que está o problema, porque a zona de risco que estamos enfrentando no mundo todo, especialmente com a pandemia, esse é o melhor e mais seguro caminho para se desenvolver.

Risco há em todos os países, mas se formos falar especificamente de EUA, China e Europa, devemos pensar duas, três, quatro vezes mais o porquê não ir, pois antes de partir para outros mercados, temos que arrumar o nosso interno, para aí sim, buscar oportunidades, e elas estão acontecendo, a América Latina é um caminho muito bom, mas o brasileiro, infelizmente, não conhece.

No caso da China, qual o impacto desse país nessa nova relação Brasil X EUA em relação ao nosso setor, existe alguma mudança?

Arthur Martinho: Tem um impacto muito forte porque, quando falamos de Brasil e EUA no setor têxtil, estamos falando de matérias-primas que podem substituir as dos fornecedores chineses – o que é difícil, pois o preço deles é muito mais baixo.

Obviamente que a China fará suas articulações para que isso não aconteça. O impacto que pode ser muito determinante é ter uma retaliação, que seria muito delicada para o setor, principalmente porque estamos há muito tempo dependentes da China. Voltamos à velha história: temos que ter uma visão muito mais global, abrir um pouco mais a cabeça; essa situação de problemas políticos, sanitários, humanitários desses países, refletirá tudo em nós. Se o setor não quer ficar dependente de nenhum desses países, tem que buscar outros fornecedores e outras praças para poder performar de uma maneira mais efetiva. O Brasil tem que ser autossustentável, não depender de ninguém.

E temos, sim, que olhar e fortalecer o nosso mercado interno, que foi a primeira coisa que a China fez quando começou a pandemia, e Estados Unidos também. Por que o Brasil não pode fazer isso? Acredito que a partir do momento em que olharmos para o nosso mercado interno de uma maneira mais efetiva, não vamos depender tanto de outros mercados. Os empresários têm que olhar para dentro da sua fábrica, olhar para os seus processos, modificar o que for preciso para se tornar melhor e mais preparado para enfrentar esse novo momento.

É necessário passar por um processo de desenvolvimento do setor, para que ele possa olhar para o mercado internacional de uma maneira competitiva, e não somente com um ou outro player; olhar de maneira mais holística, para que não venha sofrer um impacto, independente do país com o qual tenha seu relacionamento.

Ilustração: Freepik

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