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INSPIRAMAIS 2023_II

Com a temática Terra, edição reforçou a sustentabilidade na cadeia produtiva e nas inovações como pilares para lançamentos e negócios

A 26ª edição do Inspiramais (2023_II), salão de negócios e lançamentos de materiais e insumos para a indústria calçadista, de móveis, confecções e bijuterias, reuniu entre os dias 19 e 20 de julho, no Centro de Eventos da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), em Porto Alegre (RS), mais de 100 expositores e cerca de 5 mil visitantes, num público bastante seleto e ávido para conferir de perto o que há de mais inovador nos fabricantes nacionais, bem como as soluções fora da caixa apresentadas por pequenas empresas e startups.

“Os principais compradores do setor de moda nacional estavam aqui, em busca de informações e materiais que trouxessem inovação e sustentabilidade. Foi uma unanimidade entre expositores e clientes”, celebra Silvana Dilly, superintendente da Associação Brasileira das Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), entidade promotora do evento junto ao Centro das Indústrias de Curtume do Brasil (CICB) e Associação Brasileira das Indústrias de Mobiliário (Abimóvel), contando com o apoio do Sebrae e da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

Silvana Dilly, superintendente da Assintecal. / Divulgação

Anny Tonet, coordenadora nacional da Cadeia de Valor de Moda do Sebrae, destacou que o setor só perde para o agro quanto à geração de negócios e empregos, e que apoiar o Inspiramais é apoiar esses pequenos negócios com estratégia, de forma a ampliar suas capacidades e estruturar a cadeia produtiva com orientações não só econômicas, mas também de maneira holística, com pensamento de inovação e sustentabilidade.

Aliás, sustentabilidade foi a palavra de ordem no evento que, sem sombra de dúvidas, tem sido um dos principais catalisadores no setor sobre a importância de ter um processo produtivo sustentável como um todo, não só no produto final, e essa introjeção junto aos expositores vem de longa data.

“Compreendo que a sustentabilidade ainda não é um fator de transformação vindo do pensamento e de propósitos das empresas há mais tempo no mercado e sem a cultura ou apego a uma modificação plena nos sistemas de produção. O que percebo é que a demanda dos consumidores direcionada aos varejistas está indicando às marcas de produtos uma reação em cadeia – essa reação de comprar materiais certificados e indicar um prazo para o mercado de materiais ajustar está fazendo um grande efeito. Assim, a necessidade de vender torna a mudança imperativa. Em empresas com um histórico mais recente e criadas por jovens empreendedores, essa fórmula de transparência mais as práticas sustentáveis já estão em pauta, e estas, sim, acredito que venham do coração, e não do bolso”, diz Walter Rodrigues, coordenador do Núcleo de Pesquisa e Design do Inspiramais.

EXPORTAÇÕES AQUECIDAS

Se o fluxo corrente de comércio exterior do setor coureiro-calçadista brasileiro tem aquecido no primeiro semestre deste ano – somaram US$ 214 milhões, 20% a mais do que no mesmo período do ano passado –, no Projeto Comprador desta edição do Inspiramais, as perspectivas de negócios foram amplamente superadas: somaram US$ 1,7 milhão nos dois dias de evento e mais US$ 12 milhões prospectados para os próximos 12 meses.

Projeto Comprador, em parceria com a Apex-Brasil, durante o Inspiramais 2023_II / Divulgação

“O Projeto Comprador foi especial. Com compradores focados em negócios, mais do que dobramos o valor gerado com as vendas em relação ao evento de janeiro”, celebra Luis Ribas Junior, gestor de Mercado Internacional da Assintecal, que já apontava o aumento da demanda internacional por materiais brasileiros. “Existe uma tendência de alta até o final do ano, especialmente para países da América Latina, que vêm diminuindo as importações de materiais da Ásia em função do aumento dos preços dos fretes”, avalia o gestor. 

Milton Killing, vice-presidente de Mercado Externo da Assintecal, além de destacar o país como o segundo maior cluster calçadista do mundo e o trabalho de internacionalização feito pelo programa By Brasil Components, Machinery and Chemicals, promovido pela Assintecal com a Apex-Brasil, apontou os efeitos no mercado internacional pós-pandemia, como a quebra na cadeia de fornecimento e os fretes, e de que forma essas questões acabaram se convertendo em oportunidade para nós.

“Acho que o Brasil está sendo a bola da vez da oportunidade. Essa crise não ficou só no fornecimento, mas na credibilidade. Vimos que a Europa e os Estados Unidos perderam a credibilidade em relação à Ásia, e isso para nós é bom, porque antes vínhamos brigando por preços, e agora as pessoas estão vendo que a resposta não é só preço, vai além. Dessa forma, voltamos a estar no radar dos importadores, e as próprias empresas brasileiras estão vendo que exportar não pode ser uma aventura, tem que criar vínculos”, afirma Killing.

Para a edição do Projeto Comprador no Inspiramais 2023_II, foram trazidos 38 compradores vindos da Argentina, Colômbia, Equador, Guatemala, México, Peru, Espanha, Portugal, Rússia e Índia, que, juntos, somam a produção de mais de 32 milhões de pares de calçados por ano. “São grupos com grande potencial e que buscam cada vez mais produtos brasileiros, não só por fatores macroeconômicos, mas também pela qualidade e sustentabilidade presentes nos materiais verde-amarelos”, comenta Ribas Júnior. 

TERRA

O tema do Inspiramais 2023_II foi Terra, com a validação da mensagem de cuidar do planeta e seus recursos, ampliando a visão sistêmica de circularidade e melhora da qualidade de vida para as pessoas; senão, para que e para quem fazer moda?

“Sem o cuidado com o meio ambiente e com as pessoas, não existe razão para a existência da indústria”, reforçou Walter Rodrigues durante a apresentação da temática, que se pauta no começo de uma nova era no planeta, com a busca da força vital primitiva.

Explicando a metodologia da pirâmide, os 10%, na qual estão os materiais e tendências mais inovadores, trazem como tema a biomimética (projetos e processos naturais para a condução de uma indústria sustentável); já nos 30%, em que está o desenvolvimento de produtos, a simbiose é a inspiração (que traz a vida em comum, a convivência em harmonia); e nos 60%, faixa dos produtos que já estão validados pelo mercado, o tema é o biônico (possibilidade de múltiplas identidades, com materiais que mutam por meio de cor e texturas).

PREVIEW DO COURO 2024_I

Foto: Estúdio João Ricardo / Divulgação

Recomeços, reforço dos mercados internos, começo de uma nova era no planeta, força vital primitiva: o tema Primal reafirma o desejo de valorizar nossa origem, essência e legado para seduzir um consumidor que busca por atemporalidade, com couros que resgatam a naturalidade de acabamentos extremamente elegantes e originais, atrelados à narrativa sustentável de baixo impacto, durabilidade e rastreabilidade.

O tema vem representado na dualidade entre o legado (pensar no que estamos construindo e projetando para o futuro por meio de práticas sustentáveis, circularidade e conexão com a natureza, simplicidade, estado primitivo, aspecto cru) e o etéreo (delicadeza no tato, acalanto, hipertexturas, sentimentos), evocando formas orgânicas, couro, cowboys, desgaste, manchas, pelos e quebra de paradigmas no guarda-roupa masculino em cores, formas e contraposição com a fragilidade.

Na cartela de cores, apresentada por 15 curtumes no espaço Preview do Couro 2024_I, pronunciam-se os azuis esverdeados (Pantone® Lead 17-4408 TCX e Moroccan Blue 19-4241 TCX); tons de blush (Pantone® Peach Whip 14-1309 TCX, Lamb’s Wool 12-0910 TCX, Summer Sand 12-0908 TCX e Micro Chip 14-4105 TCX) em contraste com o vermelho vivo (Pantone® Equestrian Red 19-1755 TCX) e o azul profundo (Pantone® Inkling 19-3811 TCX).

NOVOS MERCADOS EMERGINDO

Na esteira da intersecção entre os materiais e designs apresentados no Inspiramais, vão emergindo novos mercados à procura de inovações, como é o caso do universo pet, decoração e acabamentos (a Altero levou, pela primeira vez, puxadores e maçanetas, apesar de atuar neste segmento há 20 anos), como revestimentos feitos a partir de resíduos reciclados. Sem dúvida, o Inspiramais é um parque de diversões para os criadores.

Desde 2019 no evento, o segmento de móveis, representado pela Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), é outro que vem aumentando sua participação no Inspiramais, bem como no mercado externo: em 2021, as exportações do setor moveleiro cresceram 50% e, até maio deste ano, 20% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Nesta edição, no Projeto Comprador, realizado pela primeira vez de forma híbrida, 54 empresas brasileiras e 30 compradores internacionais participaram de rodadas de negócios do setor moveleiro nos formatos presencial (nos dias 19 e 20 de julho, onde ocorreram 100 reuniões) e virtual (nos dias 21 e 22), reunindo compradores dos Estados Unidos, Colômbia, Chile, Equador, Panamá, Bolívia, Uruguai, Peru, República Dominicana, Qatar e Marrocos.

Cândida Cervieri, diretora-executiva da Abimóvel. / Foto: Divulgação Abimóvel

“Tratou-se de mais uma edição de grande êxito para nós, realizadores, e em especial às empresas participantes”, celebra Cândida Cervieri, diretora-executiva da Abimóvel. “É justamente a pluralidade brasileira que define o potencial inovador das empresas e dos produtos que são levados ao mercado global pelas nossas indústrias, potencializado pelo projeto setorial Brazilian Furniture, realizado e promovido pela Abimóvel em parceria com a Apex-Brasil”, completa.

Na avaliação de Cândida, a participação da entidade no Inspiramais reforça o espírito plural do evento com insights de criatividade e colaboração intersetorial. 

“Diversidade e integração foram importantes, sobretudo em um momento como o da pandemia, que exigiu a união de forças dos mais diferentes elos das cadeias produtivas para superarmos barreiras, restrições e outros empecilhos, bem como para aflorar nossa criatividade e entregar produtos de design integrado, com estética e funcionalidade para um novo viver dentro de casa. Para além dos produtos em si, acreditamos que essa adequação de processos e o desenvolvimento de novas formas de relacionamento, apresentação e vendas tenham sido alguns dos principais diferenciais e insights compartilhados por todas as entidades, empresas e segmentos envolvidos na realização da feira.”

HUB CONEXÃO CRIATIVA

Neste espaço, promovido pela Assintecal e Sebrae, e curadoria de Flávia Vanelli, consultora em Gestão de Design do Núcleo de Pesquisa e Design do Inspiramais, verdadeiros hot spots de inovação voltada à sustentabilidade são apresentados ao público, ao mesmo tempo que estão abertos a parcerias e escalagens de seus produtos e ideias.

De acordo com Flávia, nesta edição, de forma geral, as empresas fizeram excelentes contatos de interessados em desenvolver projetos de sustentabilidade em diferentes tipos de negócio, de produtos a serviços, que frutificam ao longo do ano.

“Além das empresas, também é necessário aproximar cada vez mais programas estruturantes ao Hub, que deem suporte a pesquisa, desenvolvimento e inovação que possam promover melhorias na produção, na logística, na infraestrutura, no maquinário, em sistemas de informação e outras áreas necessárias para o crescimento desses negócios, pois há uma enorme margem para investimentos e ganhos com inovações de tecnologias e sistemas da economia circular e com a promoção da inclusão produtiva. Buscamos implementar no setor uma mentalidade de futuro que o incentive a apoiar, criar parcerias e replicar boas práticas. O Hub é um celeiro de inovações sustentáveis cheio de oportunidades para isso”, reforça Vanelli.

Ao todo, participaram do espaço 32 empresas, entre elas a Mush.Eco, que apresentou amostras de revestimentos acústico-decorativos feitos de micélio (cogumelo) e resíduos agroindustriais, mostrando-se um material de baixo carbono e pegada hídrica, biodegradável e versátil. O Mabe Estúdio elaborou o Angico, material similar ao couro animal, mas 100% à base de plantas. A Dumeio, startup de biotecnologia, desenvolve soluções biodegradáveis e de fontes renováveis com base em celulose bacteriana, para atender aos setores têxtil e de decoração, assim como a Unai, que desenvolve biopainéis para decoração feitos de sementes de açaí.

Botões feitos pela RatoRói + Dedim + Brasil Botões, feitos a partir de aparas da fabricação de botões. / Divulgação

A RatoRói, juntamente com a Dedim e a Brasil Botões, uniu suas respectivas expertises – desenvolvimento de novos materiais e produtos com foco na inovação e sustentabilidade, desenvolvimento de joias contemporâneas e soluções sustentáveis em aviamentos, para criar uma linha de produtos, como bijuterias e novos botões, pelo reaproveitamento de aparas da fabricação de botões e embalagens recicladas. Já a Reinventa, que nasceu de forma colaborativa entre a Cora Design e a Revoada, ambas consultorias especializadas em ESG no setor de moda, apresentou uma solução estratégica para atuar na questão de geração de resíduos de marcas e indústrias.

Outra novidade foi o Yby Bank, primeiro banco de metais nobres de reuso do Brasil. O processo funciona assim: o Yby compra peças prontas produzidas em ouro e prata, tanto de pessoas físicas quanto de empresas. Os metais são analisados, purificados, cadastrados em blockchain e novamente reintroduzidos no mercado.

ESPAÇO SUSTENTABILIDADE

Aqui, foram destacados produtos também inovadores, mas com uma escala industrial, de 17 empresas, como é o caso do Bio Amni®, da Rhodia, fio de poliamida 5.6 que possui 46% de sua composição a partir de fonte renovável (moléculas de açúcares extraídas da beterraba e da cana-de-açúcar) e começou a ser utilizado agora na indústria calçadista. Entre suas propriedades estão o conforto térmico e a absorção de umidade como a do algodão, além da respirabilidade e toque suave. Seu ciclo de tingimento também é mais rápido, reduzindo em 40% o consumo de energia no processo.

A Libértecce, empresa gaúcha de inovação que nasceu da indústria confeccionista, apresentou ao mercado uma solução disruptiva: conseguiu mecanizar o processo de reciclagem de elastano, extremamente difícil, que, junto a outros resíduos sintéticos da indústria da moda, consegue transformar em pellets para extrusão, transformando-se num novo filamento, ou para injeção de peças plásticas, como cabides, vasos, alavancas e peças de máquinas impressos em 3D. Também conseguiu unir poliéster, elastano e algodão reciclados mecanicamente para a criação de um novo fio, que pode ser usado em malharia retilínea ou tecido plano para bolsas e calçados.

A Brisa Tecidos Tecnológicos levou o Brisa Cotton Bio, uma base têxtil com aspecto de couro desenvolvida a partir de algodão orgânico e poliuretanos de bases vegetais, 100% livre de solventes, podendo ser usado em cabedais de tênis e calçados, por exemplo. Já o Grupo Cofrag apresentou o tecido Re-Fio, um tecido feio a partir de saldos e resíduos de fios PET tingidos, dando nova vida a excedentes do processo produtivo da empresa. O resultado são os tecidos, em tiragem limitada, com tramas e grafismos dos mais variados, dando exclusividade aos produtos. 

DESTAQUES

Cipatex: em sua coleção Inverno 2023, Fluir, que conta com 40 artigos, destaque para o laminado Expanflex translúcido, artigo inovador e tecnológico que conta com cores iluminadas, sendo um vinil transparente com a borda neón, direcionado à linha esportiva.

Usina Têxtil: destaque para a tela 100% poliéster com dublagem de filme web + pelo de carneiro e estamparia digital, resultando num aspecto craft e base irregular, instigando o toque.  

Advance Têxtil: na linha vestuário, o foil dourado fez toda a diferença nas bases Space Foil (tafetá) e Trail (canelada, que lembra o gorgorão).

Altero: as divisões Moda e Casa compuseram o portfólio da Altero nesta edição do Inspiramais, em que design e acabamentos confluíram nesses dois segmentos, como a pintura esmaltada em puxadores de armários e fivelas para vestuário, e as maçanetas com revestimento PVD, que, além da beleza, têm aspecto sustentável, pois seu processo por meio de vaporização não libera gases tóxicos na atmosfera, como acontece na galvanização. Na linha de confecção e calçados, os aviamentos ainda ganharam formas, cores e acabamentos diversos, como o bojo metálico pintado e o entresseio, misturando metal com acrílico, deixando no formato desejado, tanto em cores sólidas quanto translúcidas.

Nova Kaeru: referência no mercado quando se fala em pele de pirarucu, o curtume fluminense destacou os tingimentos com cores mais vibrantes e de aspecto metalizado e emborrachado.

FAF Couros: destaque para o couro bovino com uma camada de base expansiva, dando efeito de bolhas.

Rhoma Couros: conseguiu fazer o curtimento e a tonalização da pele bovina apenas com tanino, deixando o couro in natura apto para ser usado em móveis e vestuário.

CONEXÃO INSPIRAMAIS

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